Governo responde críticas da The Economist e diz que Lula tem respeito “indiscutível” do mundo

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) respondeu, nesta terça (1º), as críticas feitas pela prestigiada revista britânica The Economist de que ele estaria isolando o Brasil do restante do mundo, além da perda de popularidade internamente. Sucessivas pesquisas de opinião desde o final do ano passado apontam um aumento da desaprovação a ele acima da aprovação.
O artigo da revista foi duramente criticado internamente pelo governo, que passou toda a segunda-feira (30) elaborando uma resposta para rebater as afirmações, principalmente de que Lula não teria conseguido se adaptar ao mundo em constante transformação.
“Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral do presidente Lula é indiscutível”, disse a nota assinada pelo ministro Mauro Vieira, das Relações Exteriores, a que o G1 teve acesso (veja na íntegra mais abaixo).
Fontes no Itamaraty confirmaram à Gazeta do Povo o envio da carta à The Economist, mas pontuaram que há uma "ordem superior" para que não seja oficialmente divulgada pela pasta mesmo já tendo sido vazada a outros veículos de imprensa, sem um motivo específico. A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República não respondeu aos pedidos da reportagem -- o espaço segue aberto para manifestação.
O artigo de opinião da The Economist, publicado no domingo (29), sugere que Lula estaria trabalhando neste terceiro mandato para afastar o Brasil das democracias ocidentais e dos Estados Unidos ao se alinhar a países como a China, o Irã e a Rússia.
Também apontou que ele foi incapaz de unificar a América Latina, como pretendia no início deste terceiro mandato, de mediar o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, de se posicionar em relação à crise no Haiti, entre outros temas.
O governo, no entanto, rebateu muitos dos argumentos citados pela revista e afirmou que o Brasil não tem inimigos no mundo e sempre busca a diplomacia para resolver conflitos, como a tentativa de uma mediação entre Ucrânia e Rússia -- em parceria com a China.
Também apontou que houve “flagrante transgressão” da Carta das Nações Unidas (ONU) pelos Estados Unidos ao bombardearem instalações nucleares iranianas, que “não é popular entre os negacionistas climáticos” e que “está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global”.
O ministro Mauro Vieira ainda defendeu a atuação do Brics como “ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico”, e que a presidência brasileira do grupo “trabalhará para fortalecer o perfil como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade”.
A fala ecoa discursos recentes de Lula de que o Brics tem um papel importante no mundo para defender o multilateralismo das investidas do presidente norte-americano Donald Trump pelas relações unilaterais – como a imposição de taxações para forçar negociações bilaterais.
“Poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo”, pontua trecho da carta.
A resposta à The Economist também cita negociações tocadas por Lula durante o G20 para a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a proposta de taxação de bilionários “que terá incomodado muitos oligarcas”.
Por outro lado, a carta de Vieira não citou a queda da popularidade do presidente internamente, em que a desaprovação vem superando a aprovação sucessivamente nas pesquisas de opinião publicadas desde o final do ano passado.
Veja abaixo a íntegra da carta a que o G1 teve acesso:
Em relação ao recente artigo publicado na sua página na internet em 29 de junho, gostaria de fazer as seguintes considerações.
Poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. Como Presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas.
O Brasil vê o BRICS como ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico. Nossa presidência trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade.
Sob a liderança de Lula, o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional e de defesa da democracia. Mostrou-se um parceiro confiável que respeita as regras multilaterais de comércio e oferece segurança a investidores. Como um país que não tem inimigos, o Brasil é também um coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia. Não fazemos tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa. Lula é um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra.
A posição do Brasil quanto aos ataques ao Irã e, sobretudo, às instalações nucleares é coerente com esses princípios. Nossa condenação responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU. Ferem, em particular, as normas da Agência Internacional de Energia Atômica, organização responsável por prevenir contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala.
Na gestão do Presidente Lula, o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo em que apontou a necessidade de abrir caminhos para uma resolução diplomática do conflito, ainda em 2023.
Lula não é popular entre os negacionistas climáticos. Em face de uma nova corrida armamentista, ele está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global.
Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral do presidente Lula é indiscutível.
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